domingo, 17 de julho de 2011

A DOR QUE CALA

( a profunda desigualdade social )

Estou aqui sentado olhando as crianças a brincar e eu sonhando.

Evidente que meu sonho é alado, que viajo além do céu e mar.

Os meus pés descalços me permite sentir o gosto do asfalto molhado.

As crianças que correm à minha frente não são mais felizes que eu, o nosso céu é o mesmo,

Só me pergunto se Deus realmente mora por lá, se existem crianças que choram por lá, pois que se Deus mora lá, não existem lágrimas pra se chorar.

Eu descobri nessa minha aventura de ser criança, que as pessoas passam por mim, mas eu não estou lá.

Acho misterioso esse vai e vem de gente, e eu aqui sentada, admirando essa correria, não fossem as dores que sinto quando às vezes choro, até que me sentiria feliz , pois nem sei se sou diferente.

Eu sinceramente às vezes durmo. Se sonho, talvez, mas sempre sonho no inverno . Você imagina como é sonhar no inverno?

É um sono molhado e frio, mas é um sonho.

Ainda hoje imaginei como aqui é maravilhoso, posso sentir a chuva, posso me sentir bem perto do Criador, enquanto você se aquece em suas casas de dores amargas, enquanto comes, mas porém sem sentir o sabor de agradecer a Deus pela fartura, eu aqui sinto o frescor da manhã e me perco na fartura de minha soberania em não ter que escolher o que farei do meu dejejum.

Evidente que choro, por vezes, mas a chuva teima em cair em cima de minha cabeça como perfume que desce sobre o meu vestido, mas esse frio me permite saborear as lágrimas que caem da minha face esquecida, não por Deus, mas pelo homem que dita os mandamentos, que veste a sua túnica mais imponente e vai hoje à noite em sua igreja, Orar.

Ah!

Não existem mágoas pra se chorar,

Tudo é tão efêmero, mesmo esse frio, amanhã o sol teimará em desfechar as nuvens que migram lágrimas das crianças perdidas.

Meu coração é alado, meu fim um fado, mas o que teima em não me deixar, é esse vazio dentro de mim, talvez isso me deixe fraco e pedinte, talvez esse cheiro forte de desolação amaina a minha fome.

Poderia você homem de Deus, poderia você me condenar ao inferno dantiano, apenas por não conhecer o caminho , não conhecer a verdade, pois que não tenho vida?

Estou aqui sentado olhando as crianças a brincar com suas roupas quentes e com sorrisos largos, com seus pais e com suas vidas , e eu aqui sonhando sozinha me pergunto, Deus está lá ou aqui bem perto de mim.

Idílio Araújo

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