sábado, 2 de março de 2024

Suzana

 te peguei na escola

naquele dia de fumaça

naquele tempo descalça

te levei pra chuva da madrugada

no barzinho da praça

colamos as faces e teu cheiro 

era meu espetáculo à parte

nem teu beijo fez parte

da nossa lembrança

te levei em segredo 

te deixei em casa 

na praça

na noite 

lá perto do mar

voltei e sigo 

te amando


O LABIRINTO DOS MEUS PEDAÇOS

 Penso até que cheguei atrasado 

sinto sim algo enganado

e já no ocaso dos cinquenta

aporto meio torto às portas da nova morada

fiz o melhor que há em mim

e fico assim sentado

sozinho na varanda da vida

e descubro tardiamente 

que não tem porto na minha espera

ainda lembro meus encantos

meu riso largo 

meus novos sapatos

os calos

o lago na miha espera 

e os desrespeitos nos jardins que pisei

agora me entrego sentado nos abismos 

e olhando o infinito que me espera

sinto um absoluto silêncio nesta minha solidão

não existe mais possibilidades de uma nova dança

rostos colados e pequenos afagos

despretensiosos afagos 

apenas quedo

aqui sentado

querendo dançar nos labirintos

dos meus pedaços