quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Vinho antigo

Posso até parecer ausente

encostar nas estrelas

poetizar as nossas canções 

ter amado freneticamente o teu colo

ter borrado nossos beijos de dentro de mim

posso até parecer amargo por instantes

mas não se reescreve histórias

não se materializa verdades do dia anterior

toda vida é ausente

não existe felicidade perene

não existe futuro e nem passado

só tempo presente

viver é reinventar novos portos

abrir novas portas

amar novos espaços

mas é permitido olhar pelas frestas do dia anterior

apenas para iludir o dia 

e lavar a alma despida de alegrias



REVISITANDO MEU PAÍS

Ando a revisitar o meu país

observando as flores do meu jardim

rosas pálidas outras quimeras

rosas desertas outros jasmins

revisito a saudade outras felicidades

e ainda assim o gosto de amora invade as entranhas

da terra molhada

ando a revisitar Santa Águeda e a rua Araújo Maciel

Casa forte 

retiro as algemas do futuro e descalço

piso semanticamente pelo jardim do meu país

tropeço pelas ladeiras da serra das pedras 

que vi por lá

desço minudentemente pelo passado

e visualizo ao longe 

as rosas desfeitas e o jardim consumido pelas quimeras

continuo caminhante

na boléias do meu espanto

e quantos janeiros rolaram

e derramaram pelas fendas dos dedos nus

teu corpo nu e outros idílios

pisei esquecido no meu país

estrangeiro no meu jardim ainda sou 

a grama úmida já não é tão verde

e minha alegria dilui o pranto

e no meu país sou viajante 

passageiro de mim

enfim

revisitei meu jardim e meu país já não estava lá