sexta-feira, 8 de julho de 2022

Amores leves

 De repente e mais que de repente

A ruga aparece e o cabelo esquece que tem cor 

A voz cala e o sonho permanece

A preocupação com o amanhã desaparece

E a vida fica mais bela 

Pois vive-se a cada dia sem esperas

A noite chega 

O desejo de correr mundo

adormece

Você prefere beijos 

E amores leves 

Sem pesos da produção de prazer

Você percebe a curva 

E torna-se detalhista

Digo

É

Prazeroso envelhecer

Tornar-se solidão 

e tendo como princípio básico 

A sua própria satisfação 

Envelhecer é assim

Nem pense ser o começo do fim 

É o começo do  comprazer

Que é a delícia do saborear 

A experiência do perceber

Andar andar

 Andei em mundos disformes 

Dismundos solenes e retóricos 

Andei por veredas antigas

Estradas e vales

Subi montes e serras 

Cansei na estrada

Perdi o norte de mim

E andei a colher sementes e frutos

Da semeadura livre

Entortei meu canto

Isolei meu espanto

Perdi vidas e pranteei meus versos

Chorei sem plateia

Engoli a dor do descaso e do esquecimento

E hoje 

Deito na rede da solidão

E vago feito alma aflita

E

Perdida

Amei tão intensamente 

Que planifiquei a minha espera

E calcifiquei a minha saudade

No ralo que escorre desejos

Estou só no platonismo que inventei

Mas por descanso 

Durmo tranquilo

Saudade do meu apaixonado

 Saudade

Dos meus únicos 

Meus oportunos individuais

Da rede

Do meu descalço 


Saudade 

Quando iludia a fome

Do magro pedaço 

Quando só tinha o sonho

Do fausto 

Quando aqueronte era só um rio

No espaço quadrado 


Saudade do furo 

Que resfriava o sapato 

Do cheiro de mato

Do descaso


Saudade da rua

Do meu imaginado

Quando rompia a fortuna 

No meu descalabro 


Saudade é fato

E hoje é espaço 

É mistura pra todo lado


Saudade do meu apaixonado

Quando chorado 

Não tinha nem lado

Mas corria calado

E era rei e soldado

Não tinha nada 

Mas tinha a certeza

Que a vida era fado 


Saudade 


Saudade

Do olhar desejado

Do pedaço 

Do pequeno espaço 

Da conquista 

Da dor de ter chegado


Da despedida 

No campo sagrado

Da esperança de ter desperdiçado 

Saudade da brisa da serra

Do viver infinitamente 

Desprendido do mar


Saudade do bar

Da igreja e do sino 

Saudade do menino 

Que corria no ororubá


Saudade é não poder voltar

Saudade é fado

terça-feira, 5 de julho de 2022

Andar andar

 Andar andar

Seguimos invariavelmente seguimos

Dia a dia a música toca 

O trem não para

A menina agora é mulher

A chuva cessa e o sol ainda é o mesmo

O cabelo perde a melanina

A pele escalpa

A dor enlaça e a lágrima pesa

Seguimos e não tem como parar 

A fita 

O amor acaba

A dor descalça

Os anos deixam estradas

A velhice acalma

A lágrima petrifica

O amor escapa

Seguimos e bem perto do fim da estrada

A visão perde a graça 

A moça passa 

E a morte chega

De repente


De repente e mais que de repente

A ruga aparece e o cabelo esquece que tem cor 

A voz cala e o sonho permanece

A preocupação com o amanhã desaparece

E a vida fica mais bela 

Pois vive-se a cada dia sem esperas

A noite chega 

O desejo de correr mundo

adormece

Você prefere beijos 

E amores leves 

Sem pesos da produção de prazer

Você percebe a curva 

E torna-se detalhista

Digo

É

Prazeroso envelhecer

Tornar-se solidão 

e tendo como princípio básico 

A sua própria satisfação 

Envelhecer é assim

Nem pense ser o começo do fim 

É o começo do  comprazer

Que é a delícia do saborear 

A experiência do perceber


Idilio

domingo, 12 de junho de 2022

SAUDADE É SOLTAR A INÚTIL QUEIXA

 Saudade 

dos meus únicos

meus oportunos individuais

da rede

do meu descalço


saudade 

quando iludia a fome

do magro pedaço

quando só tinha o sonho

do fausto

quando aqueronte era só um rio

no espaço quadrado


saudade do furo 

que resfriava o sapato

do cheiro do mato

do descaso


saudade da rua

do meu imaginado

quando rompia a fortuna

no meu descalabro


saudade é fato

e hoje é espaço

é mistura pra todo lado


saudade do meu apaixonado

quando chorado

não tinha nem lado

mas corria calado


e era rei e soldado

não tinha nada

mas tinha a certeza

que. vida era fado


saudade


saudade do olhar desejado

do pedaço

do pequeno espaço

da conquista

da dor de ter chegado


da despedida

no campo sagrado

da esperança de ter desperdiçado

saudade da brisa da serra


do viver infinitamente 

desprendido de amar

saudade do bar

da igreja e do sino

saudade do menino

que corria ladeiras

no ororubá


saudade

saudade é não poder voltar

é soltar a inútil queixa

é o encerramento do tempo


saudade 

saudade