sábado, 31 de julho de 2010

Coração

Será o coração tão frívole, tão carnal quanto se cuida

Ou terá nele mais de um assombro fisiológico:

Um prodígio moral

Será o órgão da fé, do ideal

Vê ao longe com os olhos da alma

Vê a ausência, vê o invisível

Onde para o cérebro de vê

Outorga-lhe Deus que ainda veja

Mesmo abandonado no interior

Do arcaboiço das entranhas, ainda agita-se

Com as derradeiras pancadas até sair dele as centelhas divinas

Mesmo quando o amor sádico

O esquece, ele pulsa como que sobrevivente

Póstero, previvendo e prevendo uma nova dor

Quando a sua flor de lácio braveja

Contra o seu próprio bem que não entende

Quando o poder da escória inflama os lábios

Que dantes atravessou línguas e mares

Irritado o coração jorra e chora

Mas não se degenera nem machuca

Só resseca, caleja e endurece o que foi poesia, o que foi sonho

E na alma, tantas vezes, nem de despedidas, nem de desamores,

Nem de preterições, nem de saudades,

Perdura o menor rasto, a menor idéia de vindita

Só o coração sofre, e a mente, o olhar e o corpo

São indiferentes e sorriem como uma feliz vida

Desde que o tempo começou, lento, a me decantar o espírito

Do sentimento das paixões, com o verdor dos anos

E o amargor das lutas

Vim a perceber a imensa dívida que temos

Pela vida, pelo infinito da alma,

Perante o criador

Quando as máscaras caem, o homem desperta

Desarmado e nu

Ame, e deixa transpirar o teu coração de amor

Só assim ele vive, como se para ser feliz

Fosse necessário só um dia..... IDILIO ARAÚJO. 19.11.98

Nenhum comentário:

Postar um comentário