Será o coração tão frívole, tão carnal quanto se cuida
Ou terá nele mais de um assombro fisiológico:
Um prodígio moral
Será o órgão da fé, do ideal
Vê ao longe com os olhos da alma
Vê a ausência, vê o invisível
Onde para o cérebro de vê
Outorga-lhe Deus que ainda veja
Mesmo abandonado no interior
Do arcaboiço das entranhas, ainda agita-se
Com as derradeiras pancadas até sair dele as centelhas divinas
Mesmo quando o amor sádico
O esquece, ele pulsa como que sobrevivente
Póstero, previvendo e prevendo uma nova dor
Quando a sua flor de lácio braveja
Contra o seu próprio bem que não entende
Quando o poder da escória inflama os lábios
Que dantes atravessou línguas e mares
Irritado o coração jorra e chora
Mas não se degenera nem machuca
Só resseca, caleja e endurece o que foi poesia, o que foi sonho
E na alma, tantas vezes, nem de despedidas, nem de desamores,
Nem de preterições, nem de saudades,
Perdura o menor rasto, a menor idéia de vindita
Só o coração sofre, e a mente, o olhar e o corpo
São indiferentes e sorriem como uma feliz vida
Desde que o tempo começou, lento, a me decantar o espírito
Do sentimento das paixões, com o verdor dos anos
E o amargor das lutas
Vim a perceber a imensa dívida que temos
Pela vida, pelo infinito da alma,
Perante o criador
Quando as máscaras caem, o homem desperta
Desarmado e nu
Ame, e deixa transpirar o teu coração de amor
Só assim ele vive, como se para ser feliz
Fosse necessário só um dia..... IDILIO ARAÚJO. 19.11.98