quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Meu nome... Antônio... um pai ... um filho

"...fazia frio naquele campo sagrado
onde fostes sepultado
tu...meu pai...eu...
teu filho"
Antônio Medeiros ( meu pai)  no sepultamento do seu pai Domingos Araújo.


Caro filho!

Hoje é mais um dia nesses meus oitenta anos de uma vida entre alegrias e dores.
Alegrias foram muitas, dores foram infindas, mas não quero aqui nomear ou dissertar sobre elas.
Gosto de passar as tardes a contemplar o universo e me pergunto ainda cheio de dúvidas, se vivo ou se sonho.
Às vezes me pego a pensar nos filhos e sinto uma nostalgia imensa e te digo que hoje choro fácil, pois as lágrimas de velho limitam o desejo de voltar e recomeçar.
Sei que não te amei como sabia e confesso que por não se sábio, errei. Afinal tu bem sabes que sempre fui mal educado e durrão pois não tive as oportunidades que te dei.
O meu amor é limitado pela minha ausência de conhecimento mas é infinito tanto que ainda grito procurando despertar o teu amor por mim.
Faltam poucos anos, quiçá, dias para a minha partida e o cômico é que nessa viagem não posso levar nada daqui nem o meu telefone, perderei contato contigo, se já não o perdi a anos, mas o telefone ainda está lá disponível, e isso me entristece, mas filho, onde quer que eu vá lembrarei de ti, não olvidarei que nestas tardes sentado aqui em frente ao meu portão abonei o medo da tua espera.
Eu queria te pedir perdão, mas sou muito velho pra isso, perdão pelo que não pude ser, mas também queria te perdoar por esqueceres de mim tão perto mas tão longe assim.
Fico sem entender se sou o pai pródigo ou se tu és o filho pródigo, mas nenhum de nós voltou ao lar e nesse meu ocaso descontinuo desconstituo a volta e espero.
Também te imploro migalhas da tua atenção e da tua fortuna efêmera, mas sei que pensas que não posso implorar pelo que não te dei, pois se não te proporcionei conforto na tua infância e juventude tu também não poderás proporcionar conforto na minha velhice e agonia.
Mas te digo que a fonte permanece enquanto a água viva produz o mar e o meu amor é espera e o teu memória. Tu não sabes filho e hoje tenho uma mesa farta ou se o câncer dilacera a minha angústia, nada sabes pois nada procuras e ainda assim espero uma visita que nada cobre apenas ame o resto de mim.
De teu pai.
Que Deus te abençoe.

Um comentário:

  1. O que falar após ouvir o coração desse pai e desse filho falar, chorar, clamar um pela presença do outro. Que Deus continue abençoando sua vida. Te amo primo querido e tenho muito orgulho de vc e do homem que és.

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