sábado, 2 de março de 2024

Suzana

 te peguei na escola

naquele dia de fumaça

naquele tempo descalça

te levei pra chuva da madrugada

no barzinho da praça

colamos as faces e teu cheiro 

era meu espetáculo à parte

nem teu beijo fez parte

da nossa lembrança

te levei em segredo 

te deixei em casa 

na praça

na noite 

lá perto do mar

voltei e sigo 

te amando


Varandas

 Penso até que cheguei atrasado 

sinto sim algo enganado

e já no ocaso dos cinquenta

aporto meio torto às portas da nova morada

fiz o melhor que há em mim

e fico assim sentado

sozinho na varanda da vida

e descubro tardiamente 

que não tem porto na minha espera

ainda lembro meus encantos

meu riso largo 

meus novos sapatos

os calos

o lago na miha espera 

e os desrespeitos nos jardins que pisei

agora me entrego sentado nos abismos 

e olhando o infinito que me espera

sinto um absoluto silêncio nesta minha solidão

não existe mais possibilidades de uma nova dança

rostos colados e pequenos afagos

despretensiosos afagos 

apenas quedo

aqui sentado

querendo dançar nos labirintos

dos meus pedaços




sexta-feira, 10 de novembro de 2023

SAUDADE

 Saudade


A primeira impressão que carrega a mente 

quando se articula a expressão saudade 

poderia ser de ausência 

entretanto a ausência demanda a carência efêmera

e que pode reduzir-se a esperança

do desfrutar novamente o que se perdeu


Porém 

o termo semântico vai alem

e percorre espaços

e não apenas tempos


Eu diria sinceramente

que saudade articula tristeza

quando resulta na impossibilidade 

do que a espera restaura na mente


tempos e não espaços 

são suficientes

SAUDADE DE TU

 SAUDADE DE TU


DA TUA SEDE 

DA TUA REDE


SAUDADE DAS TUAS QUEIXAS


DOS TEUS GRITOS

DOS TEUS ABSURDOS


SAUDADE DE TU


DO TEU CIÚME

DO TEU COSTUME


DO TEU REVERSO

DO TEU PLEXO


SAUDADE DA TUA FALA

DA TUA VOZ QUE ENCHARCA

DAS TUAS FARPAS


SAUDADE DAS TUAS ROUPAS

TEU CHEIRO E TUA BOCA


SAUDADE DA MINGUA 

DA LINGUA

DA ESPERA


DA DESARRUMAÇAO

DO TEU CALOR

TEU PEITO

TEU AMOR


SAUDADE DAS TUAS ENTRANHAS

TEU VIÇO AGRESTE

TEU LESTE 


SAUDADE DO TEU SUOR

TEUS EMARANHADOS MEDOS

TEUS CABELOS 


TEU VIVER


SAUDADE DE TU


A DOR DO CRISTÃO

 A dor do cristão 


Caminhar com Deus não nos excluindo do sofrimento 

João 11:35

Jesus chorou 


O luto se parece um pouco com o medo. Existe o frio na barriga e a sensação de vazio. O infinito não te parece tão ilimitado. Tudo passa a ser desinteressante, no entanto não desejamos ficar sozinhos, porém não me agrada falar com quem quer que seja. Deixa-me sozinho na minha solidão coletiva. O luto é uma solidão coletiva. Todos estão ali, mesmo quem partiu deixou-se ficar ali, como uma espera.

Parece-me a sensação da embriaguez, a cabeça cresce e o passado torna-se lento e pesado, os passos cambaleiam, você entra no modo câmara lenta e tem pavor da solidão, mas não quer está na presença, deseja apenas ouvir vozes na sala ou no corredor, mas não aqui no quarto.

As lembranças afloram e lembro do teu jeito e tuas conversas, mas não desejo pensar em ti que desapareceu feito fumaça e outras horas reclamo de Deus que por injustiça não te segurou aqui e choro desesperadamente e depois secam as lágrimas e fica a sensação de espera.

Este pesadelo vai acabar e acordo logo logo. Bem que desejaria dormir ou acordar? Infeliz distração do meu engano de vida real. E nesse meio tempo da minha alegria e agonia, olho para os lados e pergunto onde está Deus? Ou onde esteve Deus quando o coração parou? Essa é a questão recorrente no luto. 

A DOR QUE FICOU NA ARTE - SENZALA -

 A dor que ficou na arte


Saudade 

Que parte 

A dor que restou na arte


O grito

Invade

A esperança derramou


Resvala

No choro

Que arde


A dor que ficou

Na arte

Entre as paredes


Da senzala


Me parte

O coração

Naquele estranho andor


Saudade

Que parte

A dor que restou

Me invade


O grito do silêncio

Invade

Portas e o coração

Da senzala


Resvala 

As janelas trancadas 

Na arte

Pintadas entre as paredes


Senzala

Solidão 

Bengala

E a casa vazia


No ocaso do dia

Na vida 

Pra nunca mais


Vento nos olhos

 Alguns pessoas gostam de vento nos olhos

que derrama lágrimas

Outras nem vento nem  lágrimas 

Apenas sorrisos gastos


Alguns sonhos batem na face

e espalham lembranças no coração

espaços e medos 

ventos nas janelas do passado 


Algumas quimeras  e meras esperanças

que aportam nas telas do infinito que fomos

e restamos sozinhos


algumas lágrimas gostam de vento nos olhos

que derrama pessoas

que restam sozinhas


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

MISERICÓRDIA É TEU NOME

 Ó Vós que Sois!

O Eclesiástico vos chama de ONIPOTÊNCIA

os Macabeus, de CRIADOR

a Epístola aos Efésios, de LIBERDADE

Baruc, de IMENSIDÃO

os Salmos, de SABEDORIA  e VERDADE

João, de LUZ

Os Reis, vos chama de SENHOR

o êxodo, de PROVIDÊNCIA

o Levítico, de SANTIDADE

Esdras, de JUSTIÇA

a criação vos chama de DEUS

o homem, de PAI

mas Salomão diz que sois MISERICÓRDIA

e é este o mais belo de todos os vossos nomes

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

A SOLIDÃO COLETIVA

 A dor do cristão 


Caminhar com Deus não nos excluindo do sofrimento 

João 11:35

Jesus chorou 


O luto se parece um pouco com o medo.

Existe o frio na barriga e a sensação de vazio. 

O infinito não te parece tão ilimitado. 

Tudo passa a ser desinteressante

no entanto não desejamos ficar sozinhos

porém não me agrada falar com quem quer que seja. 


Deixa-me sozinho na minha solidão coletiva. 

O luto é uma solidão coletiva.


Todos estão ali

mesmo quem partiu deixou-se ficar ali

como uma espera.

Parece-me a sensação da embriaguez

a cabeça cresce e o passado torna-se lento e pesado

os passos cambaleiam

você entra no modo câmara lenta e tem pavor da solidão

mas não quer está na presença

deseja apenas ouvir vozes na sala ou no corredor

mas não aqui no quarto.


As lembranças afloram 

e lembro do teu jeito 

e tuas conversas,

mas não desejo pensar em ti 

que desapareceu feito fumaça

e outras horas reclamo de Deus

que por injustiça 

não te segurou aqui 

e choro desesperadamente

e depois secam as lágrimas 

e fica a sensação de espera.


Este pesadelo vai acabar e acordo logo logo. 

Bem que desejaria dormir ou acordar? 


Infeliz distração do meu engano de vida real. 

E nesse meio tempo 

da minha alegria e agonia

olho para os lados e pergunto 

onde está Deus?


Ou onde esteve Deus

quando o coração parou?

Essa é a questão recorrente no luto. 

Angústia

 


Senhor 

apascenta a minha ingratidão

e não deixa que sucumba a minha alma

no pantanal da ansiedade e do medo.

Meu pai eterno 

risca meus temores do mundo

e permita o respirar compassado do meu deslumbre ao te conhecer

Porquê minha alma grita de descontentamento

e a lágrima cálida entristece a face

e desfigura a tua imagem em mim

Oh Senhor meu Deus

afasta os espantalhos da angústia 

e os pensamentos nublados de escuridão

e permita que meu espírito 

descanse nas tuas promessas de eternidade