segunda-feira, 9 de novembro de 2015

LEMBRANÇAS DAS PERDAS


O que Seria do meu coração sem a caixa
que guarda as lembranças das perdas ?
Teria espaço para  a dor que em mágoa dilacera a alma
onde ficaria guardada para sempre?

O que seria da minha espera sem a caixa
que guarda a trepidez da  minha fé?
teria espaço para a angústia que em mágoa enfada a alma
ou restaria esquecida  para sempre?

Seria coração que pulsa sem esperanças
seria espera vazia sem a lembrança das perdas

O que veria a minha alma sem a caixa
que amarga as lembranças das perdas
Veria como lusa fusca que explode e ofusca
a esperança depositada
na caixa das lembranças das perdas.

Idílio



segunda-feira, 7 de setembro de 2015

a rosa pequenina




Eu que vivia
em mel e sina
voltei menina
quando tu me destes a rosa pequenina

guardei  na boca
o beijo e a língua
naquele dia
quando tu me destes a rosa pequenina

molhei a flor
esqueci a menina
naquela boca
e a rosa pequenina

e eu que vivia
em mel e sina
engoli a flor
suguei a menina

pela boca
do mel
da rosa pequenina

domingo, 30 de agosto de 2015

Teu sabor em mim

Toco o clima além do vestido
desnudo a lua
que grita meu nome
em gemidos
expurga o cheiro da terra
e derrama-se por entre
os dedos do ar

inundo teu céu
em fragmentos
deposito no teu colo
a semente do lar
e volto como espasmos
de mãos vazias

prendo o lábio em mim
e oculto o teu querer
entre as penas da libertação
e encosto em vão
teu sabor em mim

idilio

domingo, 23 de agosto de 2015

Entretantos


plantei sementes
em corpos e vales
inundei ruas e  mares
e ainda posso te encontrar

andei em prantos
em outras línguas e cantos
e no entanto
ainda posso te encontrar

estava aqui pensando
se entre tantos entretantos
ainda posso te encontrar

se ainda vamos namorar as bocas
que deixamos
arranhar os cantos do nosso descanso

plantar os filhos que deixamos
nas fileiras do desencanto

meu amor

estava aqui
pensando
se ainda posso te encontrar

nas filas das praças vazias
em tantas esperas vadias
na flor que molha o engano
entre as pernas do encanto
e entre tantos entretantos

ainda espero te encontrar

meu amor


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

TEMPORAL



É só mais um temporal
é só a chuva lavando o mal
antes que seja tarde
é só a pungente tristeza da lembrança
Natali
é o receio aflitivo da perda
entremeados da felicidade mínima
é só uma contorção transitória
na face do tempo
é mera tolice
a luz que se finda
é só uma lágrima pagã
ou saudade do teu rosto
no ecrã da tela
é só uma peculiaridade
da mente acerca do espanto
do protesto esquecido
é só o amor
aprovado e desobedecido
é só o guardião da moralidade
afinal
parece devastador
mas
é só mais um temporal

idilio

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Orurubá

Moacir

terras entre serras
cantei as matas passadas
amei o viço agreste
serpentes de lá
sentei calçadas
na imensidão do lugar

desenhei o por do sol
sentado ao luar
fui rei do meu lugar

cantei prosas e cotovias
amei o cheiro e o lugar
arranhei esperanças
fui assim
Moacir do Ororubá

Hoje não resta
nem calçadas nem praças
hoje nem sei onde é o lugar
apenas gritei pelo nome
que me via por lá

Moacir vem pra cá
fecha os olhos
o cheiro do mato
a terra molhada a derramar
nostalgias pelo ar

A minha Pesqueira
e eu pala praça

Moacir vem pra cá
sai dessa esperança
a vista alcança
alí não é mais teu lugar

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Negra

Tua pele negra
que engole o dia que há em mim
negras fontes que umedecem
as matas por onde andei

Tua pele negra
que espanta o que ofusca
quando buscas
outras bocas
que encantam o laço
no ocaso
entre o morrer e o renascer
do desejo

tua pele negra
teus fantasmas
e a réstia do que fragmentou
a tua estrada

tua pele negra
e a sombra do secreto
que o dia deixou
sem sentir

prefiro tua negra luz
teu encanto
teu silêncio
e o teu enlaço
e em ti
peco-me
descalço

idilio

Deus está

Deus está aqui
e aqui é um lugar
dentro assim
em mim
em ti
em nós

Deus está aqui
por mim
por ti
no espelho
que é o outro
que reflete
que ele somos nós

Deus está aqui
no amor
na dor  que purifica
o andor

E em tudo que há
em ti
em mim
em nós

Deus está aqui
quando a música acabar
quando o trem passar
Ele nunca partiu
nem chegou
Ele está
aqui

idilio


quinta-feira, 14 de maio de 2015

ISA





Resta a tua presença
teu espaço em novos afagos
que te dei

resta a tua volta
em notas dos espelhos que nos viram
e a dúplice vontade de te ter
entre os braços

resta reinventar tua história
em novas esperas
do nosso longo afago

resta te amar longamente
feito fragmentos
e pedaços de mim

resta a tua presença
teus beijos
e meu grito por ti

Isadora

50 anos


Aportei aos 50
com o corpo molhado de histórias
de marcas
de sonhos rasgados
mas não desfeitos
de saudades das águas mornas
que escorriam em mim
das línguas exiladas
e das desocultadoras mentiras
negadas
cheio de desesperanças na espera pura
da cura das frias tumbas das casas da justiça
consequência e razão do imobilismo
e da descrença

aportei aqui
movido pela esperança
com incontida necessidade
de vomitar restos e vilipendiar
os testemunhos da desfaçatez
e da vergonha
cheio de reencontros e concretude
de histórias vãs

amei cada segundo da minha sensatez
sem se quer poder negar o privilégio de amar
sucumbi na pura espera vã
da alma secreta e devaneios da opressão
posterizei meu enlace e eternizei a desocultação
do meu idílio em tantos outros
idílios que inventei

quinta-feira, 16 de abril de 2015



Tudo é frágil
o dia reflete a efemeridade da vida
todo o esforço quebra no simples gesto
e em um átimo
a dor

frágil
a felicidade espalha medo do fim
o amor
ah! o símbolo real do descaso programado
a dor

todo o tempo desprendido
perdido
num instante 
e a espera quebra 
a dor do fracasso




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A ausência que seremos



Qual a ausência que seremos?
ou queremos não ser ausência
mas seremos

todavia o que importa
é saber se seremos a ausência
que queremos
mas já somos e seremos
ausência

qual a ausência que seremos?
para quem queremos ser
e quem derramará alegrias na ausência
que seremos
ou não haverá quem de presente sinta
a ausência que seremos
ou quem sinta
a presença da nossa ausência

eu quero derramar presença na ausência
esparramar meu sorriso nas lágrimas da ausência
pois não desejo ser lembrança e sim
andanças presente na ausência que serei

idilio

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Gramática nua

Como poderia reinventar a linguagem do amor
em nome dos obsoletos estágios de quietude da minha'lma
se de fato vivo em tormenta e em perplexidade emancipatória da saudade
Seu nome?
repetições do desejo dos extremos que desaparecem como metáforas
de 23 dias de um dezembro qualquer
amei e amo a relação que se inverteu e que por teórica preencheu vazios
na cultura do meu tempo segundo
inventei um nome e uma fábula do teu cheiro
que escorria entre os dedos da gramática nua 
e tu, mera luz que se insinuou na fragmentação da minha indiferença
e do meu desespero
fomentou como imposição a melancolia e declarou o fim da estrada
quando por igualdade humana 
desapareceu como excentricidade 
na cidade extrema da minha aventura e agonia
idilio