quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Memórias do Café Nice

Quero poetizar minha sina
quiçá eternizar a menina
de olhos mágicos
minha namorada agreste

poetizar o espaço
e misturar tintas
nas paredes das ruas da espera

viajar nos mares cinzas da capital
e deixar a luza fusca
derramar nódoas nostálgicas
do Café Nice

não ser alegre nem triste
poetizar e desenhar linhas imaginárias
do infinito

desejar
nem a partida nem a chegada
e desprezar os corvos
e os abutres dos sonhos
que encontrar

suzabear o cruzeiro
não ser alegre nem triste
apenas
poetizar o estreito do ororubá

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desejos

Desejos flutuam
e não poderia dize que apenas flutuo em ti
pois que  assim o meu querer findaria em ti
Digo-te
necessito de ti
pois que
dia a dia
recupero o desejo pela necessidade
que
longe de ser uma flutuação de desvalor
é o desejável
alicerçando-se na reciprocidade

mas
devo dizer-te
que essa minha necessidade
projeta o desejo
para dentro das fronteiras da troca

é bem verdade que
essa minha necessidade
apaga-se
ao se expor
e é bem possível que desapareça
na sua própria manifestação
pois que não cessa quando velada
e se retira no seu segredo

compreendo que o desejo
está comprometido com a necessidade
mas é exatamente esse caráter descontínuo
que torna
o desejo efêmero
e a necessidade eterna

o que experiência a convivência dos dois
sem haver exclusão
a mobilização do desejo é factual
mas
a necessidade é a auto afirmação
do amor
e é impossível
reduzir o amor
ao silêncio
o desejo não é a expressão
patológica das paixões
e sim exigência da necessidade
necessito
exatamente por desejar todo dia
não como vício
mas como essencialidade
no meu viver

idilio

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Meu nome... Antônio... um pai ... um filho

"...fazia frio naquele campo sagrado
onde fostes sepultado
tu...meu pai...eu...
teu filho"
Antônio Medeiros ( meu pai)  no sepultamento do seu pai Domingos Araújo.


Caro filho!

Hoje é mais um dia nesses meus oitenta anos de uma vida entre alegrias e dores.
Alegrias foram muitas, dores foram infindas, mas não quero aqui nomear ou dissertar sobre elas.
Gosto de passar as tardes a contemplar o universo e me pergunto ainda cheio de dúvidas, se vivo ou se sonho.
Às vezes me pego a pensar nos filhos e sinto uma nostalgia imensa e te digo que hoje choro fácil, pois as lágrimas de velho limitam o desejo de voltar e recomeçar.
Sei que não te amei como sabia e confesso que por não se sábio, errei. Afinal tu bem sabes que sempre fui mal educado e durrão pois não tive as oportunidades que te dei.
O meu amor é limitado pela minha ausência de conhecimento mas é infinito tanto que ainda grito procurando despertar o teu amor por mim.
Faltam poucos anos, quiçá, dias para a minha partida e o cômico é que nessa viagem não posso levar nada daqui nem o meu telefone, perderei contato contigo, se já não o perdi a anos, mas o telefone ainda está lá disponível, e isso me entristece, mas filho, onde quer que eu vá lembrarei de ti, não olvidarei que nestas tardes sentado aqui em frente ao meu portão abonei o medo da tua espera.
Eu queria te pedir perdão, mas sou muito velho pra isso, perdão pelo que não pude ser, mas também queria te perdoar por esqueceres de mim tão perto mas tão longe assim.
Fico sem entender se sou o pai pródigo ou se tu és o filho pródigo, mas nenhum de nós voltou ao lar e nesse meu ocaso descontinuo desconstituo a volta e espero.
Também te imploro migalhas da tua atenção e da tua fortuna efêmera, mas sei que pensas que não posso implorar pelo que não te dei, pois se não te proporcionei conforto na tua infância e juventude tu também não poderás proporcionar conforto na minha velhice e agonia.
Mas te digo que a fonte permanece enquanto a água viva produz o mar e o meu amor é espera e o teu memória. Tu não sabes filho e hoje tenho uma mesa farta ou se o câncer dilacera a minha angústia, nada sabes pois nada procuras e ainda assim espero uma visita que nada cobre apenas ame o resto de mim.
De teu pai.
Que Deus te abençoe.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Extremo amor

Se vou ou se venho
não importa
e importa
se chego
e se estais lá
e serás a minha espera

importa se tenho propósitos
no meu ócio
e se o meu descanso
for o reverso do pranto

e mesmo que olvides
a minha face
não duvides da minha alegria
por ti

e sendo assim
desalegro o desprezo
que me enlaça
quando quedo seguindo
na imensidão da estrada
que me leva
ou me traz
pra perto de ti

idilio

Íntima agonia

Esse riso que implora pela boca
essa íris que chama
e encanta a cama
do teu interlocutor

essa língua que decora a boca
e morde a palavra muda
nada pede
só esconde o desejo
da fala

quem dera
o surdir da tua mudez
contasse 'segredos
de liquidificador"

e o morder da tua língua
ferisse o espaço vazio
da minh'alma
que deseja
a tua íntima agonia

idilio