segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dor suprema

Dor suprema
alma esquecida
e a mentira da ausência
e o consolo do desespero

Dor que se instala
e a paz doente
a vida que mente
e o fim da espera

dor que encarcera
e o desprezo do amanhecer
abandono da voz da esperança
lágrima de cera

dor suprema
alma esquecida
pedaço de mim
voltas enfim

idilio

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Orquídea da serra

anjo do norte
rosa amarela
orquídea da serra
pétalas

menina flor
cheiro virgem
da rosa pequenina
esquinas da dor

anjo da serra
florzinha que exala bruma
que encanta a pedra
e desperta o monte

menina que saliva
a rosa
e entorta
a  porta do cantor


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nós dois


Desenhamos um filho
e vivemos nós dois
fizemos a história
e mudamos  depois

nós dois
aplacamos o tempo
escrevemos  bons momentos
e mudamos depois

apagamos os sonhos
de quem veio no antes
em nóis
construímos depois
nosso tempo e vivemos
nós dois

e mudamos de roupa
mudamos de  medo
e vivemos as gotas
que caiam de nós
em nóis

e hoje
bem um tempo depois
só desejo te ver feliz
nós dois
nos dois nóis

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Gosto



Um toque
e a boca derrama
e o cheia de espanto
engole o medo e de tanto
partir e chegar
grita por encanto

Um beijo
e o olho morto
derrama
gotas pelo chão

Um cheiro
e o despertar
e a explosão
da lira

Um toque
e o encharque
da ira
e o sufoco
da rosa
que despetalas
num gemido surdo

Um toque
um beijo
um cheiro
um gosto

idilio

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Verde




Verdes
livres da esperança da volta
longe
que entorta o azul
que te dou

leve
quando escondes
o desejo de me ver chegar

verdes
atrás da íris negra
da aliança que pactuas

mesmo que nua
não é minha
nem tua
a gruta que esconde a fala
do desejo que me enlaça

úmida
a porta da minha volta
e do meu prazer em te-la

verde
tua boca
é verde da cor do meu pecado
quando disfarço
meu desejo de respirar
teu hálito
e beijo de soslaio
teu nome

verde

Serei tua

Serei tua
por toda uma eterna manhã
apenas desço da solidão do ontem
e vivo as línguas da juventude
emaranhadas na visão
sublimada da menina na praça

serei tua
por toda a manhã de nós
das bocas que calam
e eternizam o não como um sim

serei a primeira
mas aquela manhã
foi a vida inteira

serei tua
por toda a eterna manhã
das desculpas
e dos meus nãos
quando era namorada
mais que amada

serei tua
apenas na manhã
de nós
não mais das tardes que somos
nem das noites
que nos esperam

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tu és

Tu és

minha fala e estrada
e o que espero
todo dia
no limite do meu espaço
quando rasgo
a solidão
pelo teu braço

meu regresso
e meu descanso
o meu fado
quando sozinho
escuto e silencio
e grito mudo
por teu abraço

o meu resto
quando tudo é desperdício
e efêmero

eterno e meu
Universo
quando pequenino
te espero
todo dia

cura da melancolia
e meu verso
quando triste
desperto
e fico bem perto
do anverso
do resto

domingo, 10 de novembro de 2013

Jejuar

Jejuar é sofrer consciente
mas uma dor efêmera
consequente da ação insana
e perdida

jejuar
é compreender a sede
no deserto da dor
é a materialização do arrependimento
é o auto perdão

jejuar é o ápice da oração
é a gratidão
é a memória do coração

que abdica da revolta
e do desespero

jejuar é a resposta
que prepara a alma
é o pleito que não implora
mas agradece e chora

é o amor
é a porta

Duas

Duas
e uma só boca
uma só estrada

duas
e um só medo
uma só volta

como beijos
que nunca te deixam

duas
o conforto
e o mergulho
a fome
e o desprezo da voz

a certeza
e o azul infinito
como ninhos
além das fronteiras
de algum lugar

duas
e a porta que esconde o dia
e enclausura a fala do cantor
que morre de asfixia
das emoções e da dor

duas
apenas uma escolha
e uma saída
e nada na língua
além da fala
que emudece a alma

O beijo





O beijo que você me deu
me deu
não foi um beijo
meu
foi teu
e teu
e eu
gostava tanto
de te ter

o beijo
meu bem
enroscou
no passado
o beijo
que você
perdeu
foi meu
e meu

o beijo
que você
esqueceu
na boca
da serra do mar
no ororubá
foi um beijo
que me perdeu
o teu
e o meu
na  catedral
e Águeda
abençoou
o beijo
que você me deu

sábado, 2 de novembro de 2013

Querubim

Chorei!
pois perdi
a voz

a lágrima
a última fala
a fala de quem
já não tem voz

chorei!
e mudo
imitei a língua
implorei
volta!

Chorei!
e a vida escorreu
por brechas
que desenhei

Chorei!
e mudo
estornei a ala da fala
pois gritei
tão intensamente
que deixei a vida na sala
inerte e cálida

Chorei!
e deixei a voz escorrer
no conformismo da espera
e não mais amei
nem assisti o sol nascer
apenas saí por aí
sem caminhar

Chorei!
e na ilusão
não pude voltar
pra mim
e pintei
um nome
um fim

Chorei!
apenas chorei
querubim

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Memórias do Café Nice

Quero poetizar minha sina
quiçá eternizar a menina
de olhos mágicos
minha namorada agreste

poetizar o espaço
e misturar tintas
nas paredes das ruas da espera

viajar nos mares cinzas da capital
e deixar a luza fusca
derramar nódoas nostálgicas
do Café Nice

não ser alegre nem triste
poetizar e desenhar linhas imaginárias
do infinito

desejar
nem a partida nem a chegada
e desprezar os corvos
e os abutres dos sonhos
que encontrar

suzabear o cruzeiro
não ser alegre nem triste
apenas
poetizar o estreito do ororubá

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desejos

Desejos flutuam
e não poderia dize que apenas flutuo em ti
pois que  assim o meu querer findaria em ti
Digo-te
necessito de ti
pois que
dia a dia
recupero o desejo pela necessidade
que
longe de ser uma flutuação de desvalor
é o desejável
alicerçando-se na reciprocidade

mas
devo dizer-te
que essa minha necessidade
projeta o desejo
para dentro das fronteiras da troca

é bem verdade que
essa minha necessidade
apaga-se
ao se expor
e é bem possível que desapareça
na sua própria manifestação
pois que não cessa quando velada
e se retira no seu segredo

compreendo que o desejo
está comprometido com a necessidade
mas é exatamente esse caráter descontínuo
que torna
o desejo efêmero
e a necessidade eterna

o que experiência a convivência dos dois
sem haver exclusão
a mobilização do desejo é factual
mas
a necessidade é a auto afirmação
do amor
e é impossível
reduzir o amor
ao silêncio
o desejo não é a expressão
patológica das paixões
e sim exigência da necessidade
necessito
exatamente por desejar todo dia
não como vício
mas como essencialidade
no meu viver

idilio

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Meu nome... Antônio... um pai ... um filho

"...fazia frio naquele campo sagrado
onde fostes sepultado
tu...meu pai...eu...
teu filho"
Antônio Medeiros ( meu pai)  no sepultamento do seu pai Domingos Araújo.


Caro filho!

Hoje é mais um dia nesses meus oitenta anos de uma vida entre alegrias e dores.
Alegrias foram muitas, dores foram infindas, mas não quero aqui nomear ou dissertar sobre elas.
Gosto de passar as tardes a contemplar o universo e me pergunto ainda cheio de dúvidas, se vivo ou se sonho.
Às vezes me pego a pensar nos filhos e sinto uma nostalgia imensa e te digo que hoje choro fácil, pois as lágrimas de velho limitam o desejo de voltar e recomeçar.
Sei que não te amei como sabia e confesso que por não se sábio, errei. Afinal tu bem sabes que sempre fui mal educado e durrão pois não tive as oportunidades que te dei.
O meu amor é limitado pela minha ausência de conhecimento mas é infinito tanto que ainda grito procurando despertar o teu amor por mim.
Faltam poucos anos, quiçá, dias para a minha partida e o cômico é que nessa viagem não posso levar nada daqui nem o meu telefone, perderei contato contigo, se já não o perdi a anos, mas o telefone ainda está lá disponível, e isso me entristece, mas filho, onde quer que eu vá lembrarei de ti, não olvidarei que nestas tardes sentado aqui em frente ao meu portão abonei o medo da tua espera.
Eu queria te pedir perdão, mas sou muito velho pra isso, perdão pelo que não pude ser, mas também queria te perdoar por esqueceres de mim tão perto mas tão longe assim.
Fico sem entender se sou o pai pródigo ou se tu és o filho pródigo, mas nenhum de nós voltou ao lar e nesse meu ocaso descontinuo desconstituo a volta e espero.
Também te imploro migalhas da tua atenção e da tua fortuna efêmera, mas sei que pensas que não posso implorar pelo que não te dei, pois se não te proporcionei conforto na tua infância e juventude tu também não poderás proporcionar conforto na minha velhice e agonia.
Mas te digo que a fonte permanece enquanto a água viva produz o mar e o meu amor é espera e o teu memória. Tu não sabes filho e hoje tenho uma mesa farta ou se o câncer dilacera a minha angústia, nada sabes pois nada procuras e ainda assim espero uma visita que nada cobre apenas ame o resto de mim.
De teu pai.
Que Deus te abençoe.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Extremo amor

Se vou ou se venho
não importa
e importa
se chego
e se estais lá
e serás a minha espera

importa se tenho propósitos
no meu ócio
e se o meu descanso
for o reverso do pranto

e mesmo que olvides
a minha face
não duvides da minha alegria
por ti

e sendo assim
desalegro o desprezo
que me enlaça
quando quedo seguindo
na imensidão da estrada
que me leva
ou me traz
pra perto de ti

idilio

Íntima agonia

Esse riso que implora pela boca
essa íris que chama
e encanta a cama
do teu interlocutor

essa língua que decora a boca
e morde a palavra muda
nada pede
só esconde o desejo
da fala

quem dera
o surdir da tua mudez
contasse 'segredos
de liquidificador"

e o morder da tua língua
ferisse o espaço vazio
da minh'alma
que deseja
a tua íntima agonia

idilio

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Batismo de angústia

É necessário reinventar uma nova história
reaprender a andar por  veredas antigas
cônscio do batismo de angústia
e do plágio esquecimento

dor
metáfora fundadora  da oração
flecha do tempo em espiral
polarização que emancipa o orgulho

o meu apelo é medo
que se esvai na segura possibilidade
de uma eternidade
divorciado do criador

daí a necessidade de reinventar
novos horizontes
mas seguir seguro por terras dantes pisadas
quiçá
derramar desespero pela estrada
mas seguir
como um eterno aprendiz no tempo

imune a obsessão de desconstruir
e fundar um sincretismo acrítico
servir
pois é na servidão
que se celebra a fragmentação
das diferenças

idilio

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A dor em dó

A terra chora a fome e o desamor
e ainda tento plantar a flor

as crianças choram
do outro lado da rua
e aqui
almoço olhando o mar

minha poesia é minha calma
e meu lamento

mas a confusão
dentro de mim
é escárnio

não posso viver o mar
quando a dor canta em dó
a tragédia de viver aqui

creio que a dor
é apenas uma volta

quando tudo está perdido
a lágrima da fome
busca um novo presente

a minha lágrima é esquecimento
e a dor que trago
por saber-me inercial
nesta história
lamento



idilio

O amor é lírio

O amor é lírio
é forte
é frágil

O amor derrama
e enrama
é líquido
e engana
quando flui
espanta

meu amor é simples
descanso
e espanto
quando sem sentir
explode em pranto

meu e teu
é sozinho
esquecimento
mas
por vezes
unguento

meu amor é pleito
mas hoje
segredo
saudade das mãos
e do colo
do descanso

o meu amor é lírio
é frágil
decerto
e outras
deserto
oásis de mim
e meu fim

idilio

domingo, 18 de agosto de 2013

O amor órfão

o amor tem um percurso duplamente estranho
em um primeiro momento antecipa-se bloqueando a razão
em um segundo momento entende que não se deve subverter a ordem
e procede a uma análise crítica da ilusão de viver o sonho projetado pela sua insânia

Eis que é necessário transformar esse poder desigual
do desprezo da razão e a própria razão maquiada que substitui o platonismo inicial
é necessário construir alternativas para o esquecimento e boicotar o amor
desconstruindo a aspiração e desarmando a resistência
em um confronto do esquecimento
afinal o que vem depois só tem sentido se já estava antes
como as ausências e a convulsão das raízes e opções

é um desperdício reconhecer as diferenças e os mundos desiguais
e sentir o amor como se vírus, excluindo as possibilidades do encanto
permitindo o desencanto disfarçado em apropriação transformadora
e a minha luta incessante gera a indolência
mas reconheço demasiadamente tardio
a minha lembrança está longe de restar perdida.

idilio


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Caruaru

O que dirias
das ruas que pisei
estradas e marcas
e aí morei

meus beijos e lágrimas
nostálgicas calçadas e praças
e a casa que vivi

janelas passadas
por onde andei
e em tuas entranhas
depositei filhos e lágrimas

amei amei
tuas largas esquinas
e namorei teus sinos
tua espera e herança

por fim
fica sempre por saber
não te insinuas em mim
pois não posso mais
celebrar a fragmentação
das tuas diferenças

Caruaru
o meu apelo foi
aprender com tu
a necessidade de reinventar
a minha história
e condensei
o teu nome em mim

e hoje
imune à obsessão de desconstruir
oculto a tua relação desigual
de ser meu ontem
e meu fim



idilio

Ventre livre

Tantos janeiros vividos e sonhados
ainda compositor da vida
buscando atalhos perfeitos
na ilusão de um mundo sem mágoas
em estorno por terras dantes pisadas

sem ser o mais o mesmo
ainda sou quem erra
e espera a volta do novo
ou do ladrão

tenho lágrimas pisadas
e difluais que não merecem a atenção
meu canto é surdo
e ainda na contra-mão

se eu clamar
o que você irá escutar
seria o fim de festa
com meus versos
ou ingratidão

cada peça iludida que encenei
cada culpa que vesti
disfarçadamente escrevi
e o que convém
não senti
só busquei quimeras

desprezo a chegada e a partida
mas ainda assim
prenso o meio dia
e sou apenas um andante
por aqui

mas
enquanto a chama arder
serei tudo
e a lágrima que purifica
encharca a dor do mundo
e irei fundo
no ventre da terra

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Pérolas para ostras vazias. Romanos 6:15.23

Somos servos das nossas escolhas
e portanto, na qualidade de servos, devemos obediência.
E exatamente por obedecermos somos servos.
Mas a obediência pela dependência
não é obediência é medo.
A obediência só é obediência verdadeira se for obediência de coração.
Não só por ser servo
mas por amar o seu Senhor.
Amor por amor, não por dependência ou temor.
O cristão é servo do Cristo Jesus
e portanto na qualidade de servos devemos obediência
e exatamente por obedecermos somos servos.
Mas a obediência é amar
e amar acima de todas as coisas e todas as coisas.
Quem é verdadeiramente servo?

Pérolas para ostras vazias - Mt 6.12

"Perdoa as nossas dívidas
assim como nós temos perdoado
aos nossos devedores"


É interessante entender a diferença básica entre a desculpa e o perdão.
Evidente que só se tira a culpa de alguém pela desculpa, pois que desculpar
é dizer , olha você não tem culpa, eu compreendo que você agiu assim por
este motivo, um motivo que eu entendo.
Com relação ao perdão você diz: você fez isso, você tem culpa mas eu aceito o seu pedido de perdão; jamais vou lançar isso em seu rosto e tudo entre nós será exatamente como era antes.
C S Lewis, diz que a existência de uma desculpa é a existência de uma circunstância atenuante. A desculpa atenua a culpa.
Perdoa-se o indesculpável e essa é a atitude esperada de um cristão.
Jesus vincula o merecimento do perdão ao próprio perdão ou seja, Jesus diz na oração dominical, olha você só será perdoado na exata medida que também perdoa, e não olvide que perdoar  é esquecer.

idilio

o inconformismo da banalização

Vivenciamos o inconformismo da banalização
e essa verdade que se visualiza nas ruas da cidades
é uma representação transparente da realidade

Mas a verdade não pode ser uma separação absoluta
entre a tragédia e o inconformismo
a verdade deve superar essa dicotomia
e ir além em uma necessidade de reinventar
a realização pratica de valores morais

a verdade não deve transitar entre o sim e o não
entendendo o sim como uma metáfora do desejo humano
basta
essa é a nossa bandeira e pleiteamos o fim
não de uma sociedade injusta
mas o fim da banalização da corrupção e do excesso

idilio

a nossa canção

olha
nós não tivemos a nossa canção
nem paixão em nosso toque
mas
tivemos razão e o porque
de um amor assim assim

e eu posso até esperar
você voltar
e quem sabe assim
te invento uma canção
e será então
nossa canção

olha
nós inventamos um mundo
descartamos o espaço
iludimos o tempo
mas
não tivemos
a nossa canção

e eu me pergunto
nessas serras
tão longe de casa
será que andas descalça?
será que pensas em mim?
assim assim

e eu fico a te esperar na janela
apenas é uma espera
e não uma canção

a canção que eu inventei
pra ela

quinta-feira, 9 de maio de 2013

murmurações

Meu coração está ferido como látego
e vencido pela frutificação da iniquidade
e da maldade
Os servos encharcados
e os iníquos cheios de exalão
com seus rebanhos em demasia.

Me pergunto tresloucado
porque jaz os filhos do altíssimo
em desastre e dor?
Seria ingratidão servir ao Senhor Deus
e não viver em escravidão
já que os filhos da depravação
ostentam suas riquezas
e suas escamoestações.

Ah! Senhor dos desgraçados
onde o teu cajado e tuas promessas
para os filhos de Sião
por que Deus da miséria
não amenizas a dor dos teus filhos
que clamam por perdão
Serias o caminho da salvação
mas postergas para além da perdição
as dádivas das promessas juramentadas
pelo chão

Ah! filhos da lamentação
murmuras por conversão
inquietos deitas e não buscas o pão
jaz feito dor que exparge e não quebra
mas que é carniça por estagnação
Filhos da imaginação
te indignas, gritas e até adormeces  em oração
mas não voltas à casa do perdão.

terça-feira, 30 de abril de 2013

PERTINHO DO MEL

vem
deita aqui
sou tua
beija aqui
pertinho do mel

vem
e joga o gosto de tudo
na minha boca

sou tua
morde aqui
bem perto do fim

morde em mim
enfim

sou tua
lua nua
tua espera

vem
mas feche a porta
que enrosca em ti

sou tua
lua nua
que grita em ti
sou tua volta
mas
não espera
morde em mim

sou tua voz
chora em mim

machuca
mas não chuta
só gosta em mim

sou tua
beija aqui
bem perto do fim

sou gruta e espaço
que espera por ti
vem
deita
bem aqui
deixa a rua molhada
mas fecha a porta
que enrosca em ti
vem

FERA

o meu amor é descanso
é meu
mas não se resume em mim

nasce aqui
mas se derrama
pelas fendas do mundo

o meu amor é tudo
mas se divide
pelas ruas dos amores
é silencio quando espera
mas verbera
quando chega
e explode
pelas teias que enreda

o meu amor é frágil
eis que despedaça
e por vezes quebra
mas que
rasga a carne
e às vezes é fera
quando em pedaços
dilacera

PERDOAR

Perdoar a quem perdeu
sou eu
sou eu

perdoar a quem sofreu
e eu
e eu

perdoar
mesmo que o depois
seja o único motivo
para chorar

mesmo que amar
seja descansar
e meu
e teu
despertar

perdoar
e rasgar o ninho
da espera

amar
amar

distrair a solidão
da calma
da alma vazia
de amar
amar

perdoar
e de repente
tudo volta pro lugar
que se perdeu
o meu
o teu
e eu
e eu

sábado, 6 de abril de 2013

DEPOIS DO ANTES

quero dançar com você
depois do antes
e acordar no antes
pelo prazer do depois

te espero e te quero
como se ama o que sempre foi
mesmo depois do depois
pois que é eterno
enquanto chama
pois que é infinito
eis que renasce
toda manhã
enquanto queima
e ainda que esquecido
arde sozinho
para renascer no depois

quero esse querer
mesmo que não queiras
querer-me
pois se é leve
eis que flutua
pelo espaço que há
entre o depois e o antes
de nós dois

e depois de você
pra que
pra que

terça-feira, 5 de março de 2013

NO FOSSO DA TUA ESPERA

Você já se imaginou de volta
depois da curva deixada
atras da porta

e na volta
descobrir que não partiu
que tudo não passou
de uma imagem torta
no fosso da tua  espera

Você já fechou os olhos
querendo apagar o teu presente
e acordar no teu passado

já  sonhou viajar sem porto
em direção ao infinito do ontem
sem perdas e danos

já ficou quieta
esperando a lágrima fugir de dentro
bem pra longe de ti

e nessa espera
esqueceu de  desejar a volta
e que valeu a pena
tudo
tudo valeu a pena
nessa cena
de uma outra história

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O peixe e o pássaro

Um dia, um peixe ousado, por contemplar o céu e sonhar com aquele imenso azul, imaginou-se pássaro e sonhava noite e dia naquele céu.
Não seria diferente, seria indesculpável a temeridade de se expor, mas asilou a tentação de voar.
Qual estivesse amparado por estranha força invisível, depois de beijar enternecido o ar, mergulhou quase que seguro naquele estranho e desconhecido mundo, mas seu mar.
Todas as tardes dividia o olhar entre o firmamento cintilante e as águas tranquilas, e sempre abismava-se em profundas indagações que nenhum outro peixe poderia sondar.
Morrer mil vezes, mas um dia deixaria esse mar, voaria e mesmo que tortura fosse assim sonhar e por menor que fosse esse padecimento em frente ao céu, não despojaria viver só para o mar.
Pobre peixinho, não obstante a fortaleza de sonhar, quando por vez primeira ouviu aquele pássaro cantar, cedeu a tortura que antecede o desalento, e entre a paixão inacessível, tentou fugir daquele cantar, mas em vão cedeu a fadiga de voltar bem próximo às margem, arriscar só para sentir aquela voz, aquele cantar.
Venceu a inquietude e a solidão o compelia a recuar, mas ainda assim todo ocaso estava lá, aquela paixão que lhe conspurcava a paz de sonhar e desejar ser passaro só para voar. Já não era ele, que sonhava, aquele pássaro já era ele e ele não sabia explicar, e nem sabia se cantava ou estava só a escutar.
O peixinho compreendeu que vivia em um mundo e aquele que ele via na lusa fusca e que mergulhava por vezes e sentia-se voar era outro mundo outra vida, que ele um dia estaria por lá, seria pássaro, cantaria da nostalgia de querer voltar para o mar.
Aquela paixão entre dois mundos tão próximos mas tão distantes pois que um não poderia permanecer no mundo do outro se não por instantes, apenas instantes e no depois seu mundo ainda era o mar.
Amar, amar, o pássaro e o mar, ambos pertenciam a ele, e ele era às vezes pássaro às vezes era mar. Mesmo em corpos diferentes, mesmo em mundos diferentes, mas o tempo, o tempo essa medida do que não há, o tempo era por vezes o medidor de mundos, era sim, aquilo que lhe dizia, que ele podia ser ao mesmo tempo, pássaro, peixe e mar, tudo se resumia na vontade de materializar, de se ver em um mundo ou em outro lugar, tudo era possível na ideoplastia de materializar a vontade aqui e acolá, o que importava era sentir e sentir às vezes até que não se encontra em qualquer lugar, sentir é algo que mora no lado de cá, no lado de cima do coração quando se esprai em sonhar.
Ser peixe por ora, ser pássaro sem demora, tanto aqui como lá, são mundos reais, pois é real também sonhar, imaginar , desejo que torna-se vontade pelo acionar, pela ação de querer, o desejo passa a se materializar do lado de cá.
Ah! o peixinho estava apaixonado, e paixão é o climax da ideoplastia, pois materializa o objeto da paixão de tal forma que não se sabe mais o que é peixe e o que mostra-se fora do mar, pásssaro que voa ou peixe que ama, tudo, tudo é um só lugar.

Acordou ainda noite, estava em um galho bem próximo a face limpida do lago azul. Apertou bem os olhos e conseguiu visualizar no ocaso do acordar, aquele peixinho bem próximo,quase a lhe tocar e de repente olhou bem para as suas asas e inventou um vôo.
Mesmo voando ele não conseguia distinguir se ele era passáro que havia sonhado ser um peixe ou se era um peixe sonhando voar. Sentiu a carícia do vento e o beijo deslizava por entre seu bico e penas, mas ainda assim, não sabia se era peixe, passáro ou mar. Mas sabia e sentia que amava e amava aquele peixe e aquele mar e não importava se ele sonhava ou estava do lado de lá e sim importava que sentia e sentir é viver todo dia é ser peixe, é ser passáro e mar, é ser vento e céu é ser tudo, tudo que há, é sempre estar em algum lugar.


 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

desaviso

E se eu disser que te amei
acreditarias em minhas lembranças?
se não busquei a eternidade do nosso vislumbre
vaguei em solilóquio doloroso

mas eis que tu vagueias em mim
como querobim desavisado

sigo amando teu espento
de não te ter por descanso

e se eu disser que sigo
e é  reflexivo o meu desaviso

e amando e amando
por vezes te escuto em verde e rosa
me querendo tanto

Parou naquela estação
o prazer que explodia
a nossa emoção

conta-me a tua vida
por agora
tua filha que chora
quando escapa teu seio
e das horas que cantas
e encantas  o beijo de agora
do espaço molhado
entre o céu e o teu laço
da tua nova esperança
da tranca quando tranças
a porta atras de ti

idilio

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

lusa-fusca

Dirias
idílio
e nada respoderias além do eco em mim

tudo é tão átimo
e nem represento que hoje
é o ágora
se meus olhos fecham
e nem sei se o presente é o que se quis

Dirias
Deus
e nada responderias
além do desejo de vive-Lo
é fusca a lusa da minha viagem

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

o ano que morreu


Meu bem

Tudo de repente sumiu

E olha que nem é primeiro de abril

Mas esse teu olhar no meu

Foi teu desejo

E não seu

Meu bem

Hoje o ano sumiu

E olha que nem assim

Você ressurgiu

Mas o meu pensamento

No teu

Foi desejo meu

E não teu

Meu bem

Leia

teu passado no meu

e olha que nem sou teu

nem eu

sou assim

como o ano que morreu

meu bem

 

 

 

cicatrizes

meu corpo de guerreira
esculpido pelas cicatrizes de guerras
expostas em mim

minha pela derrama o suor
das conquistas
e cada vitória
será sempre um novo
recomeço

e nessa lusa-fusca
que ofusca as dores da batalha
ah! ilusória natureza
que cegao gesto
de recusar-se a ver
que a vida não é conquista
é recepiente vazio
mas que tragicamente sublime

o que torna majestosa
a beleza frágil
do viver

a janela dos mortos

Triste espaço no compasso a dois
os corpos são frêmitos da desordem
e as almas desfrutam caminhos opostos

conviver conspira o desmando da maldade
lados e espaços vazios
átomos que nem por um átimo
sustentam as janelas dos mortos

insegura
a dura certeza da despedida
que por desnuda
despe a vida em dois

triste a conspiração da maldade
que por ser pública
torna impudica
o amor