terça-feira, 29 de junho de 2010

pra você

pra você que decidiu me amar
sem escolher quem sou
decidiu sem sentir meu cheiro
sem saber meu nome

apenas decidiu me amar
sem escolher meus medos
sem escrever seu nome em mim
decidiu unilateralmente me amar

pra você que escolheu me amar
sem exigir meus sonhos
sem desejar ser dona de mim
decidiu sem roubar meus olhos

pra você que que resolveu me amar
simplesmente me amar
sem voltas, sem encontros, sem idas
sem nomes

resolveu me amar sem mim
resolveu me deixar sem partir
sem ficar , sem me ter

idilio

O personagem juiz

Primeiro capítulo

Era um Forum relativamente pobre, como são os Foruns do interior do estado pernambucano, as paredes nuas, um bureau velho e uma mesa de audiências amarelada, a máquina de escrever ( isso no ano de 1998) palavras tortas e por vezes mortas, quando não, materializa sentimentos frios e desejos já vencidos, jazia triste em um canto, como a clamar por uma morte rápida e sem dor.
O Juiz sentado naquela sala fria e pequena, congelava uma lágrima por sobre a íris, e de tão petrificada, externava sabedoria a transeuntes que visualizavam naquele fraco homem a única esperança que escapava por entre os dedos e quase findando a vida ainda em seu berço.
A sala diminuta não suportava o volume dos processos que se acumulavam por todos os cantos e piso, como poeira crônica.
O mesmo céu, os mesmos processos em todos os tempos, a mesma lua, a mesma dor. Tudo igual, o passadeo é o presente sem futuro, até mesmo Deus é o mesmo, os homens apenas mudam de credo, tudo volta , tudo é eterno.

-Excelência !
-Excelência !

Desperta o juiz como o chão de outono ao longo das pedras irregulares, como perseguido de perto por duas asas tarjadas de negro, em pânico, porém sereno...olha para o serventuário da justiça como que o autorizando a falar, porém no ocaso entre a sanidade e o despertar.

- O Dr. Advogado quer falar com Vossa Excelência, pois quer saber qual o Vosso entendimento sobre esse problema dos contratos fixados em moeda extrangeira.

Eis que o Magistrado apruma a Toga,manda entrar o nobre representante da Ordem dos Advogados, expõe o seu ponto de entendimento, e quando volta como por milagre ao sonho, agora aninha no peito dois prantos, o de não poder sonhar sem ser interrompido por lampejolas insistentes e o de possuir um contrato de financiamento com variação em dólar.

segundo capítulo

Corria o menino pelas ruas da pequena cidade às margens da serra do Ororubá, não sabia que a pobreza, amiga fiel e inseparável dos genitores era a anfitriã do seu pequeno lar, e viveu, e amou Suzana, e amou todo o drama da lama, da fome, mas nunca chorou nem odiou, quando criança sempre foi o menino da lua, da rua crua, da nua vida.
Passeou pelo Cristo Rei, empunhava o cetro pelas ladeiras dos seus desejos infantis, e cuidadosamente amou seu primeiro livro, a gramática que carecia do primeiro capítulo e havia perdido os dois últimos.

Lá está sentado o Magistrado, para seu genitor, homem pobre e sem cor, alí está um deus, o grande vencedor, o criador , a sobrevivência da sua noite, a porta, o mito e o mundo.

Alí está sentado o juiz, o filho

segunda-feira, 28 de junho de 2010

um homem de fé

O homem tem que se manter fiel aos seus princípios
mesmo nas adversidades
mesmo em um tempo estendido
em tempo de dores e nostalgia.
Um homem de fé não pode tombar em desgosto
pois o acaso não é obra do criador
E as sementes lançadas ao solo?
E a colheita dos frutos?
tudo faz parte do mistério do riso
Não te deixes anistiado
não queiras uma vida sem luta e desafios
a subida pode ser árdua e cheia de dificuldades
e muitas e muitas vezes
na subida tu te arrastas igual a  lesmas mascilentas
e se te pores na vertical
certamente tombarás no abismo da desilusão
e não esqueças que a descida é rápida e violenta
e muitas vezes machuca um coração desprevenido
Mas ao voltares à vida real
ao limite do teu sonho e vida
deverás continuar a caminhar com alegria e sem mágoas
pois se assim não for
perderás um ou outro
nos desvios de uma vida sem fé

Não te desesperes meu amigo
pois se parares na subida
mesmo que para descanso
prejudicarás os que se postam atras de ti
esperando para seguir o único caminho permitido
o único caminho fora do abismo
arrasta-te mas segue
fere teus pulsos e veias
mas segue
chora mas segue cantando
não olvides que ao teu lado
dois seres iluminados volitam
seguindo teus passos
nunca, nunca estarás sozinho.
O passado, mestre da vida, senhor do destino
nada te pede, apenas recorda
em nada te pune, apenas restaura.

idilio/Zara Feus

o mundo das certezas irreais

a vida meu amigo é uma breve temporada que engloba várias histórias
mas tão pequenas em tempos que chegam a ser esquecidas em vários momentos
e cada espaço percorrido torna-se um átimo depois e uma eternidade no durante
no existir, no momento.
E nessa vida deve-se buscar além da preparação para os prazeres materiais,
sobretudo a espera, a preparação para a dor que se avizinha
pois entre um dia e uma noite sempre existirá um morrer e um novo dia.
se o amigo busca apenas a alegria do momento, saiba que de momento tudo é efêmero
o que fica e o que resta em nós é a alegria na dor, é a resignação na espera
é a espera na dor
Tudo meu jovem compositor da vida, pe reflexo
o próximo instante reflete o antes
as conquistas são tão frágeis
Prepare a tua amargura, objetive a sua vida para que a dor chegue
e ao se instalar se depare com paz dentro de ti, e entenda que é passageira
que não mais que um instante, que dure menos que um dia
Não se desespere nunca, desespero é falta de preparação para o futuro incerto
desepero é prolongamento do medo e semântica da dor
A vida meu amigo é oportunidade de renovação
é oportunidade de rever erros e fatos
de rever amigos e alegrias esquecidas
é oportunidade de evoluir a alma impura
é a chance de vencer uma nova etapa
A felicidade é alheia a nós, ela pertençe aos outros
a quem amamos, aos filhos e pais, a felicidade está no outro
externa a nós,
ela é um veículo de união, é a paz sonhada
Não se pode ter dois tempos, tem-se sim dois lados
duas etapas, tem-se dois momentos
várias vidas, várias histórias
tem-se sim, muitas oportunidades

A magia, a energia doente, o erro, o engodo
a falsa certeza da eternidade do conhecimento
a sabedoria não se despedaça no tempo

Meu nome e minha história, serão novas etapas no mundo das energias disformes
no mundo das certezas irreais.

idilio (Zara Feus)

domingo, 27 de junho de 2010

a amizade ( aos filhos )

a amizade é diretamente proporcional a possibilidade de doação
quer seja material, quer seja potencial, mas sempre envolve interesses
e é evidente, sem interesses não existem amores e o homem estaria fadado à solidão
a amizade guarda em si a certeza de um receber, de uma exploração inetável e real
a da busca de preencher o vazio da alma ou de proporcionar uma vida segura
a possibilidade de doação é o valor da amizade

ninguem se interessa por quem nada pode doar
e a proporção que o seu poder de doação diminue
os amigos tornam-se cada dia mais raros, mais distantes
você é o que pode oferecer
o teu valor é o teu poder de mando ou de doação

mas apesar de parecer triste essa realidade,
pelo contrário, enobrece, valoriza o amigo
pois dos inúmeros amigos ou corte, poucos restam
quando não mais impores o cetro e a coroa

quiçá não reste nenhum
ai tua felicidade deve ser maior, pois terás a certeza
de que eras cortejado pelo que tinhas ou podias doar
não pelo que és, pelo amor que habitava dentro de ti

que partam os amigos
que ao teu lado permaneça apenas a sombra do que foram
e não viverás entre a mentira e a ironia

os amigos permanecem ao teu lado
enquanto poderem permanecer ao lado do poder
da alegria
mas tua dor inevitável se apresentar
a tua casa ficará vazia, as portas estarão cerradas
pois não serão mais passarelas do riso

tu serás sempre querido e importante enquanto e por quanto tempo
permaneceres no poder ou na potencialidade do poder.

idilio

sábado, 26 de junho de 2010

entre a mentira e a ironia

a míngua de uma visita inesperada
de uma tristeza mórbida
em um mundo de inválidos

a ironia é a porta dos fracos
e a mentira a fuga dos justos

às margens da fria visita dos puros
e no ocaso da alegria
é assim
o sentido de mim

oh! fuga brejeira
para solidão do ausente
em um mundo vago
e sem fim

oh! dor seca
que machuca a alma impura
que não é nem dúvida nem certeza
é só alma vazia
que desce e se esconde
no negro espeço
entre a mentira e a ironia

o justo, o inesperado
o falso instante que se instala
como andante errante
e o coração que salta perdido
implora por um instante...e para

idilio

o silêncio

como fazer falar o silêncio
sem que ele fale necessariamente
o que pretende falar

sem que doa no peito
sem que meu vestido
me esconda de mim

essa tragédia pessoal
de conhecer o que soa por dentro
e ecoa nas entranhas da minmha alma
e me dista dos homens
e me esqueçe em um canto
como um bloqueio necessário

não há um único possível
que possa resistir a fraqueza
de ter conhecido os meus sonhos

e quem sou eu
entre o meu desejo e o meu dia
existe um espaço que sinto mas não vivo

e nesse meu grito
pretendo apenas prender
bem junto a mim
a minha alma
que viaja entre
aqueronte e minha cama
e me dista de mim

meu nome?
dirias tu idilio
eu porém lho digo

meu nome é amor supremo
é amor líquido
entre o meu azul e o teu céu.

idilio

razão indolente

300 anos se passaram
e eu aqui sentada
te vejo no campo
tentando verter
cada gota do teu suor
em mim

eram tempos difíceis
reis e rainhas
subjugavam o nosso amor

foi um tempo querido
e hoje já sem tempo
lembro você
homem forte
a cortar a terra
lá no fim do dia

que saudade me arranha
a gargante nessa tarde fria
e eu aqui sentada
te vejo no campo

e tento verter
cada gota do teu suor em mim

eram tempos difíceis
e vejo você a cortar a terra
e lá no fim do dia
teu corpo molhado
descansava em mim

e eu pequenina
derramava meu medo
e me escondia em teus braços
era tua puta e senhora
tua razão indolente
teu seio e teu fim

Idilio

terça-feira, 22 de junho de 2010

A chave de mim

me chamou
me tirou de mim
me fez voltar

e aqui
quem sou?

me falou tão perto
e calou o beijo
sem mim

e eu
desprezando quem sou
me fiz voltar

e aqui
dispo o vestido
que me prende a ti

estou nua

mas tu não tens mais
a chave de mim

idilio

um plácido respirar

viajando na magia de um plácido respirar
embora irracional para as mentes sublunares
infinitesimalmente um longo respirar

o dia é eterno e o tempo
um átimo
um olhar em direção ao infinito
e o que temo no tempo
é ficar esquecido
e adentar num sonho trágico

não é o saber da ciência que se libra
acima das nuvens e alteia o vôo soberbo
além das regiões siderais
até os parámos indevassáveis do infinito
não
e sim um lábio que pede e se permite
um mergulho nas entranhas de um corpo
pelo céu de uma boca nua

é o gemido contido
de um coração que explode
os mais sãos desvarios da inveja e da loucura

o que direis
que seja eterno
oiu que dure o tempo certo de um dia
o único dia que se vive
em que se vive

mas o que importa é que dê começo
amenizando a tutela pérpetua
dos que não escolhem
com receio da volta

não é sonho
bem sinto eu
nas pulsasões do sangue
essa ressureição ansiada

oxalá não me fechem as portas
a porta torta que direciona os amantes
para o universo do encanto e da dor

viajei na magia daquele plácido respirar
daquele choro contido
que escorria entre os dedos
entre o lábio e o peito nu
entre o sentimento de um olhar
na porta morta.

idilio